JURIDIQUÊS
Tem sido
comum a pessoas que vão a uma audiência pela primeira vez não saberem como irão
se comunicar com juiz, o promotor e até com o seu próprio advogado. Isso é o
resultado lamentável de uma cultura que mais representa um vício do que uma necessidade
que é o uso do “juridiquês” que nada mais é do que uma linguagem que, de tão
difícil, é somente entendida por juízes, promotores e advogados, com exceção de
algumas pessoas que dispensam seus tempos para pesquisar o que significam
aquelas palavras tão estranhas ao cotidiano.
Essa
linguagem é perfeitamente substituível, bastando para isso que aqueles que
conduzem e participam da audiência tenham a preocupação e a boa vontade para se
expressarem de forma compreensível a qualquer pessoa.
O
“juridiquês” é usado para demonstração de erudição e poder, já que nada
acrescenta na aplicação da Justiça que é o maior objetivo do Poder Judiciário,
sendo uma manifestação de ego com a finalidade, inclusive, de criar um muro que
separa a Justiça do povo.
O acesso
à Justiça é garantia constitucional, estando escrito em um dos incisos do
artigo 5º da Constituição Federal que “a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.”
Sendo obrigação de todos os membros da Justiça, inclusive, dos advogados, a
facilitação para que o cidadão tenha acesso à Justiça para buscar reparação dos
seus direitos violados ou para solucionar os conflitos de interesse nos quais
está envolvido.
E o
acesso à justiça implica também na compreensão do conteúdo das leis e na
linguagem que se usa no poder judiciário, já que as leis tratam dos direitos e
deveres do(a) cidadão(ã) e o poder judiciário é órgão responsável pela
aplicação delas.
A
Associação dos Magistrados Brasileiros, preocupada com a inclusão do cidadão
brasileiro na prestação dos serviços jurídicos lançou importante campanha para
simplificação da linguagem jurídica. A campanha tem como objetivo fazer
com que os integrantes do Poder Judiciário e demais operadores do Direito se
comprometam sobre a necessidade de tornar a linguagem utilizada em audiência e
em outros atos da justiça mais acessível ao povo.
Bem comparou o uso do “juridiquês” no Poder
Judiciário com o uso do latim em missa, um ministro de um dos nossos tribunais.
Tal utilização serve para acobertar um mistério que amplia a distância entre a
fé e o religioso, no caso do latim e entre o cidadão e a lei, no caso do
“juridiquês”.
Um juiz de
Florianópolis disse: “Está eivado de ilegalidade o recolhimento do increpado ao
ergástulo público”, quando poderia dizer: essa prisão é ilegal.
Não podemos, no
entanto, confundir a iniciativa de combater o “juridiquês” com a suposta
redução da capacidade de elaboração que os profissionais do direito devem ter.
Ao contrário, o abandono dessa linguagem rebuscada e desnecessária, apresenta
um novo desafio que é o de ser o agende de tradução dos conteúdos legais para a
linguagem acessível a todo(a) e qualquer cidadão(ã), o que garantirá a inclusão
cada vez maior do povo brasileiro nos serviços prestados pela justiça.
MIRABEL
ALVES ROCHA
ADVOGADO
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